quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Sou.



Eu me descobri na queda quando valsei meu tombo
e quantos catombos na valsa da queda ensaiei?
Pisei passos de pessoas presas e passas pela dor
por deixarem de ser uvas e me afundei.
Vaguei curvas... que foram
infindas dentro de mim. Degustei uvas, submergi...

Revirei meus cantos e descobri cacos,
quem dera fossem cacoetes as quedas, os macetes,
os tombos que caí...

Fui chuva no fim de tarde de verão que teima,
fogo que arde, o amor que engana. Fui pura chama
que inflama da paixão que queima e fiquei só.
Fui pó dos passos, cinza, brisa, mormaço!
Fui soneto, sono, sonolento. Fui rua, estrada,
fui nada, fui gueto. Pensamento. Mudança.

[... E mudança é um mundo que termina enquanto outro
começa dentro de mim].

Então sou fim e recomeço a parte que conheço
das partes que partem para o fim em consentimento.
Sou tudo. Vida. Morte. Renascimento.
[... E tudo é poesia].

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Momentos.


Algumas coisas na vida nunca perdem a magia: 
Uma manhã ensolarada, disposição à beira da 
estrada, um domingo sem fazer nada e um 
finzinho de tarde fria...

Algumas coisas na vida sempre serão utopia:
Um sorriso permanente, um eterno amor 
displicente, uma perfeita paixão inocente 
e uma insubstituível e eterna alegria...

Não há nada na vida como viver!
Simplesmente, viver! Cada momento, cada fase, 
sem pular estação, sem fingir, sem parar, 
sendo cem por cento racional e totalmente emoção...

Não deixar ninguém me roubar de mim, me levar de mim 
por caminhos que não escolhi, nem buscar atalhos que
subjuguem os retalhos que de mim sobraram. Mas ser pó
como sou, pétala de flor, das que de mim soltaram...

Ser displicente, ser vida, ser só. Não um "só" 
inconsequente, nem ser "só" indiferente, mas estar só 
dentro da gente, dando cambalhotas de satisfação, 
sendo só o que o meu sol plantar; iluminação.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Que és?



És epidemia lançada ao vento,
rasgada aos quatro cantos de mim,
vulneravelmente consolida...
És epidemia. És minha grafia,
tinta em cetim.
És pestilência na carne magrela.
És mistura de aquarela.
És tintura. Fissura. Pantera...
És sorriso latente depois de lagrimas,
das lagrimas que de mim não soltaram.
És o verso que ao averso se faz entender.
És marca perfeita. A revolta que espreita
o músculo cardíaco. O meu não querer.
És indefinição. De mim, és revés!
Quem é minha morte.... e minha sorte?
[...] Tu és.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Abandono

Sofro eu do terrível câncer que me comem os ossos
E das pestes passadas que também me comera a castigada
filosofia derradeira. Digo da prisão da carne e da paixão
-se é que em tal assunto revelar-me posso-

Que tudo na vida tem seu tempo de maturação
e as coisas que na vida há vivera a me condenar
a ser escravo involuntário das deidades dispersas
e das mentiras imersas que me sucumbe o  coração

E esse, se é que se pode falar sem pensar em
saudade -pois esquecer-se do tempo é mentira
e viver de lembranças é vaidade- ainda sim digo
dos flagelos e castigos que me apegam aos ossos sem opção

Dicotomia vulgar da epigênese miserável sofri
Mas eu, deixei-me a própria sorte
e mesmo que da morte venham hoje
dizer-me que jaz a minha porta

Digo-lhes que se tenho vivo o peito é porque carregar
as cargas de tal fardo é o jeito, mas que não temo perecer
cativo ao leito, pois uma vez que me agoniza o peito,
de   saudade, já tenho a alma morta.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Brisa


Um suspiro... e uma ponte sobre a lucidez
-sonho acordado- de outros outonos e outros setembros.
Ah, quem dera, quem dera!
De novo outono ou primavera!
...E manhãs aveludadas de teu ventre em pele nua,
Quem dera ser tua,
como em outros ventos que nos lambiam a meia tarde,
mas a verdade é que o tempo passa,
o fogo se acaba em fumaça,
e até o nosso, que em mim ardia
virou suspiro na tarde meia,
virou palha que se incendeia
e sumiu na ventania...