quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Aquele dia ele não voltou. In the Arms of an Angel by Sarah McLachlan on Grooveshark



È triste como a vida as vezes tem o dom de nos fazer sofrer,
É triste como ela tem a mania de nos deixar saudade.
Pensei outro dia nessas coisas e senti o peito sufocar,
Lembrei de um sorriso que hoje não mais tenho, de uma alegria
que hoje não mais me envolve. Lembrei do meu irmão, de suas manias,
dos seus defeitos, de suas fantasias, seus trejeitos. E senti saudade.

Pensei o quanto a morte é cruel. Ela não te da a chance de pelo menos
cumprir, ou terminar alguns projetos e sonhos. Ela simplesmente
interrompe o vivo ciclo da existência, e ocupa o vazio com o nada,
com as lembranças, com a saudade.

Lembro muito bem daquele dia ensolarado, um dia como outro qualquer,
cheio de afazeres e atividades. Ele saiu de casa, com a previsão de voltar,
deu um abraço na mãe, abriu o portão e seguiu, passou no banco onde me
encontrou, me apertou a mão e partiu... com a previsão de voltar.

Aquele dia, ele viu pela ultima vez; o verde da grama nas ruas, o azul do
céu entre nuvens, e o movimento da existência. Aquele dia sua mente costurou
seus últimos pensamentos, sua memória rebuscou suas ultimas lembranças...
suas mãos prestaram as ultimas obediências aos mandados involuntários de
sua coordenação, respirou os últimos ares... sentiu os últimos palpitares do
coração.

Ele queria ser um profissional, concluir seu curso, ajudar os pais e estar 
com a família. Ele estava feliz com o nascimento da minha filha, e planejava
o meu aniversário. Tinha muitas coisas em mente, e em seu mundo imaginário.
Mas aquele dia ele não voltou... Ele não voltou.

Recebemos seu corpo inerte, frio, vazio, sem movimento. Não parecia ser
realidade... não parecia ser verdade... Mas, era. Aquele dia, pensei no
espaço vazio entre as próximas fotografias... Nas pausas engasgadas
num momento de risadas entre a família em alegria. Pensei no seu sorriso
claro, que agora só veríamos em fotos. Pensei na tristeza do natal,
e nos meus aniversários tristes, na curiosidade da minha filha, quando um
dia me perguntar; como era o seu tio. Por que aquele dia ele não voltou...

Não houve um ultimo abraço no pai, não ligou para se despedir da irmã
recém casada, não deu um abraço na cunhada. Por que aquele dia, ele queria
voltar. Não era seu plano partir... Não era seu plano. Mas a morte é cruel...
Não respeita planos. Ela, é cruel.

Mas eu sei, que ainda o veremos, ainda o tocaremos, e sentiremos o calor
do seu corpo num aperto ao peito... Longe da frialdade da devoradora terra
crua. Um dia o-veremos e caminharemos juntos, por outras ruas.

Nesse dia diremos:
"Onde esta, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó adeus, a tua vitória?"
Eu sei o quanto doí a distancia, o quão é sofrida a saudade. Mas haverá
um despertar... E finalmente, o nosso ultimo inimigo; a morte, já não haverá.

Eu sei que esse texto não precisava existir, ou deveria ser menos triste e tocar
menos do que tocou. Mas esse texto tem que chorar também as minhas lagrimas
e rezar também a minha dor. Eu sei que esse texto é triste... Mas esse texto só existe,
por que aquele dia... ele não voltou...

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